A Biomimética é uma área da ciência que observa fenômenos e processos da natureza, utilizando seus mecanismos para inspirar soluções que beneficiem o cotidiano das pessoas. Em outras palavras, a Biomimética se inspira em elementos da natureza (como formas, funções, processos e sustentabilidade), os estuda procurando aprender suas estratégias e soluções, a fim de utilizar esse conhecimento em diferentes domínios da ciência, inclusive no design e na arquitetura.
A Biomimética, que ao pé da letra significa imitação da vida (de “bios” que significa vida e “mimesis” que significa imitar), está cada vez mais atrelada à sustentabilidade e muitas das suas criações visam substituir métodos que degradam o meio ambiente por outros mais “limpos”. A ideia é que a natureza já resolveu muitos dos problemas que enfrentamos, tem uma experiência de milhões de anos fazendo uma gestão eficiente de recursos para sua sobrevivência. Animais, plantas e microrganismos são engenheiros mega experientes, porque é fato que os mecanismos naturais funcionam muito bem.
Na arquitetura e na construção essas soluções podem contribuir para o processo criativo do projeto, com inspiração em padrões geométricos e matemáticos, presentes nas formas orgânicas, e estes padrões são associadas aos conceitos de harmonia e equilíbrio.
É importante saber que a biomimética não é replicar apenas as formas da natureza, mas compreender como os organismos funcionam e se mantêm, desta forma busca-se a eficiência como um todo, seja na estética, na eficiência energética, construtiva ou funcional, além de escolher de forma também eficiente os materiais empregados. Esta capacidade de entendimento da natureza pode auxiliar na resolução sustentável de problemas como: iluminação, conforto térmico, eficiência energética, durabilidade e produtividade.
Um dos exemplos práticos e de fácil entendimento da utilização da Biomimética é o VELCRO (aquele fecho de duas partes que “grudam” uma na outra). Seu criador, o engenheiro suíço Georges de Mestral, numa excursão de caça pelas montanhas dos Alpes, em 1948, encontrou seu cão coberto com sementes de Bardana (‘Arctium majus’), uma erva com frutos revestidos por pelos em formato de gancho. O engenheiro se viu obrigado a entender o mecanismo de fixação das sementes à pelagem para que pudesse removê-las sem machucar o animal, e a partir daí a ideia germinou, e ele aplicou a mesma lógica em material plástico, dando origem ao velcro.
Enfim, a Biomimética utiliza a natureza como fonte de criação e inovação e, como é abundante em recursos e inspirações inovadoras e sustentáveis, é uma excelente forma de sustentação e preservação da vida na Terra. Já existe uma vertente de estudiosos que conecta a Biomimética à nossa 4ª Revolução Industrial.
Uma coisa é aprender sobre a natureza, outra é aprender com a natureza. E este olhar para a natureza, para buscar soluções, passa pele pergunta: “O que a natureza faria aqui?’
Foi assim que foram concebidos materiais como revestimentos autolimpantes que funcionam como as folhas da flor de lótus, plásticos que se autorregeneram como a pele humana, fibras mais resistentes que o nylon, inspiradas nas teias de aranha, adesivos super aderentes baseados nas microestruturas dos filamentos das patas das lagartixa, estádios de football em forma de ninho, etc. Um bom exemplo na arquitetura é o EASTGATE CENTRE, de Mick Pearce (1996), no Zimbábue, edificação projetada para ser ventilada e resfriada por meios totalmente naturais, usando técnica que imita a forma dos cupinzeiros africanos para manter constante a temperatura interna, apesar das grandes variações de temperatura da região. O centro utiliza o ar frio da noite para resfriar a massa do edifício, e durante o dia este ar sobe do térreo em direção aos pavimentos superiores através de chaminés.
O trem bala japonês foi inspirado no comportamento do pássaro “kingfisher” (pescador-rei). Eiji Nakatsu, engenheiro-chefe do trem e um ávido observador de pássaros, encontrou a resposta para fazer um trem que não fizesse muito barulho. A modelagem da frente do trem foi feita como o bico do pássaro que mergulha para pescar sem salpicar muita água, o resultado foi não só um trem silencioso, mas um trem que consume 15% menos eletricidade, mesmo que com uma velocidade 10% maior.
Outro exemplo bem bacana é o pavilhão experimental da Universidade de Stuttgart, na Alemanha, onde um sistema modular que permite um alto grau de adaptabilidade e desempenho, devido à diferenciação geométrica de seus componentes de placa e juntas de madeira, formam um esqueleto como o de um ouriço do mar (Echinoidea).
Hoje já existe até o BIO-URBANISMO: cidades do futuro inspiradas na natureza, mas falamos disto em outro momento.